Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito em segundo turno para o Palácio do Planalto neste domingo (30). O resultado foi confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por volta de 19h50. O petista derrotou o atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL).
Lula vai ocupar a Presidência da República pela terceira vez na história. Ele já teve dois mandatos como presidente do Brasil, entre 2003 e 2010. O vice-presidente será Geraldo Alckmin (PSB).Ele é o 1º na história a ser escolhido para o cargo 3 vezes pelo voto direto.
A vitória significa uma nova oportunidade para a esquerda brasileira. Lula passou os últimos anos tentando provar ser inocente de acusações de corrupção e buscando reerguer o Partido dos Trabalhadores, abalado pela onda antipetista que, em 2018, levou o ex-deputado federal de direita Jair Bolsonaro à Presidência e resultou na eleição do Congresso mais conservador desde a redemocratização do país.
Parte dessas tarefas, Lula precisou fazer da cadeia. O ex-presidente ficou 580 dias preso em Curitiba, após ter sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo então juiz federal Sergio Moro, que conduzia a Operação Lava Jato. As decisões de Moro foram anuladas depois pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por incongruências no processo.
Do céu ao inferno
Em janeiro de 2011, época em que ostentava um recorde de 83% de aprovação pessoal depois de oito anos de governo, Lula passou a faixa presidencial para sua sucessora, Dilma Rousseff (PT). A partir daquele momento, a vida política do principal líder do PT — na avaliação de alguns, da esquerda brasileira — sofreu uma série de reviravoltas.
O Partido dos Trabalhadores, que Lula ajudou a fundar em 1980 e que chegou ao auge da popularidade entre os anos 2000 e 2010, começou a ser associado a escândalos de corrupção ainda durante o primeiro governo petista. Mas foi na era Dilma que a imagem da legenda sofreu as maiores perdas.
Embora o escândalo do mensalão, esquema de compra de votos no Congresso, tenha vindo à tona em 2005, envolvendo políticos do PT e de partidos como o PP e o PL, o julgamento do caso só começou em 2012. Por isso, em 2006, mesmo após as primeiras denúncias, que não traziam provas contra ele, Lula foi reeleito, com 60,8% dos votos válidos no segundo turno contra Alckmin.
Os prejuízos para o PT ficaram mais visíveis a partir de 2013, quando José Genoíno, ex-presidente da sigla, e José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, foram presos. Mas, sem envolvimento no caso, Dilma foi eleita em 2010 e em 2014, com o apoio de Lula. Àquela época, o nome do ex-presidente estava em alta. Depois de deixar a Presidência, ele passou a fazer palestras em outros países e chegou a assinar uma coluna mensal no jornal The New York Times.
Em 2014, explodiu o escândalo do petrolão, durante a Operação Lava Jato. As acusações de pagamento de propina em troca de contratos com o governo federal arranharam ainda mais a imagem do PT e, consequentemente, do ex-presidente e fundador do partido. Ao mesmo tempo, a economia brasileira começava a desacelerar.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 3,8% em 2015. No ano seguinte, a queda foi de 3,6%. O desemprego voltou a subir, após a melhora observada nos governos Lula. Acusada de ter cometido crime de responsabilidade pela prática de “pedaladas fiscais”, Dilma foi afastada da Presidência em 31 de agosto de 2016, em um processo de impeachment que o PT classifica como golpe.
Na época do impeachment, a popularidade do PT entrou em uma rota de declínio ainda maior, 13 anos depois de atingir o auge. Enquanto partidos antes aliados, como o MDB, desembarcavam do governo Dilma, as denúncias contra Lula se acumulavam, até que, em 2018, ele foi condenado por Moro nos processos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia.
Lula acompanhou da prisão a derrota do candidato que o substituiu nas eleições de 2018, Fernando Haddad (PT), e a chegada de Bolsonaro ao poder, apoiado por Moro, que pouco depois foi nomeado Ministro da Justiça do novo governo. O PT, que em 2002 chegou a eleger 91 deputados federais, viu a bancada cair para 54 nas eleições de 2018.
De volta à vida política
Durante os 580 dias de prisão, petistas fizeram vigílias diárias em Curitiba, usando o novo grito de guerra, “Lula livre”, até o momento em que ele foi realmente solto. Em novembro de 2019, o STF vetou a prisão após condenação em segunda instância e passou a entender que réus só poderiam ser presos após o trânsito em julgado do processo. A decisão beneficiou Lula, que havia sido condenado pela Justiça Federal do Paraná e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Assim como quando o ex-presidente foi preso, em 7 de abril de 2018, milhões de brasileiros assistiram pela TV a saída dele da prisão, em 8 de novembro de 2019. O primeiro discurso em liberdade foi feito no mesmo dia, a militantes, ainda em Curitiba. O tom político acendeu o alerta dos opositores: estava claro que, quando pudesse, Lula voltaria a ser candidato.
Desde que saiu da prisão, ele passou a ser considerado o mais provável nome à Presidência da República pelo PT em 2022, depois de ter sido barrado pela Lei da Ficha Limpa em 2018. Esse cenário passou a ser realmente possível a partir de março de 2021, quando o ministro do STF Edson Fachin anulou todas as condenações impostas contra ele.
Fachin argumentou que os casos não deveriam ter tramitado na Justiça Federal do Paraná. Moro, portanto, não tinha competência para julgar o ex-presidente. O entendimento foi confirmado pelo plenário da Corte em abril de 2021. Os processos foram para a Justiça do Distrito Federal, mas prescreveram. Lula recuperou os direitos políticos, e nada mais o impedia de se candidatar.
Ainda em 2021, Lula começou a aparecer em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, com Bolsonaro em segundo. No auge da pandemia de covid-19, os eleitores estavam preocupados com a saúde, com a situação econômica, com a alta da inflação e com o desemprego. A rejeição a Bolsonaro ultrapassou 50% em setembro daquele ano, segundo o Datafolha. Fonte: Exame.com
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